Me olho em meu espelho quebrado, lembrança da última vez em que você esteve aqui, respiro fundo tentando me encontrar no reflexo que vejo, encontrar a garota que eu era antes mesmo de te conhecer, antes de entrar em sua armadilha e descobrir que isso é o que você faz. Sinto falta daquela garota que eu costumava ser, há tempos não a vejo acreditando no impossível como sempre fazia. Encaro-me e digo, em voz alta, que essa será a última vez que o encontrarei, que não brincarei mais com você do seu joguinho de sim senhor.

Sempre digo o que você deseja ouvir, sempre faço o que você quer que eu faça, e você sabe tão bem o que dizer para ter qualquer pessoa em suas belas mãos, sabe o momento certo de sorrir, de contar aquela piada que vai relaxar o ambiente, e isso foi sempre algo que invejei em você: a sua capacidade de colocar tudo e todos em sua orbita. Sempre que vou ao seu encontro tenho as palavras na ponta da minha língua, sei exatamente o que quero dizer, o que devo dizer, mas então você me olhar com aquele olhar mágico e um sorriso brincalhão estampando os seus lábios e de repente me esqueço quem sou, e o que deveria lhe dizer para que leve todo esse sofrimento embora consigo.

Confesso que tento te entender, arrumar desculpas para cada comportamento seu, mas tudo é em vão, sinto como se estivesse tentando montar um quebra cabeça de outro quebra cabeça com um milhão de peças. Mas você acha que eu não te conheço, muito pelo contrario, eu te conheço, conheço o seu tipo, as coisas que você faz, os jogos mentais que você tanto ama, eu sei cada pedacinho seu de cor e salteado, mas acontece que me esqueço deles no momento que você diz algo bonito, ou segura minha mão, mesmo sabendo que esses pequenos atos fazem parte de sua encenação. Acho que no fundo quero crer que não serei mais uma.

Meu único desejo é que me deixe ir, já que não tenho forças para pedir licença e sair porta a fora. Não me venha mais com nenhum jogo, nada que possa me fazer sentir, mesmo que momentaneamente, a culpada da sua eterna infelicidade, porque você sabe que eu faria tudo para tirar qualquer dor que tenha em seu coração.

Sempre digo que essa será a última vez que me deixo levar por você, que essa será a última vez que digo um sim a você, que essa será a última vez que você me fecha a porta da sua vida. E quando estou quase bem, quando eu quase consigo ver aquela garota que eu era antes, você abre uma frecha da sua janela, põe uma peça exatamente no lugar que deveria estar para me encurralar em sua vida, para me prender e fazer ver apenas você, o meu pecado preferido, a única pessoa que consegue me por no céu e no inferno ao mesmo tempo, a única pessoa que me faz implorar por mais e por misericórdia em uma única frase.

E aqui estou eu, a sua porta, sabendo exatamente o que vai acontecer quando eu por os olhos em você.

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* Esse texto faz parte do meu projeto Amor e Música (que em breve irá virar um livro, yeeeh), onde me inspiro em músicas que gosto para criar histórias de amor. Para ficar por dentro de qualquer novidade, clique aqui.

Música usada para esse texto: Yes Girl - Bea Miller